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Centro de Informação em Saúde para Viajantes


Doenças cardíacas

Francisco Eduardo Cardoso Alves, Denise Vigo Potsch & Fernando S. V. Martins

Os viajantes com doença cardíaca devem observar os cuidados adequados à sua condição, além das medidas de proteção em relação às infecções. São desaconselháveis viagens para regiões remotas, sem estrutura adequada para atendimento médico, com altitude elevada ou que exigem um grau de esforço físico maior que o desejável para o indivíduo. Nas viagens de avião, deve ser levado em consideração que a quantidade de oxigênio é menor no interior das aeronaves do que no nível do mar, o que é um fator de risco adicional.

Planejamento
A viagem deve ser planejada cuidadosamente e com a antecedência adequada. É importante que sejam obtidas informações precisas sobre os roteiros e os meios de transporte a serem utilizados (a Internet é um bom começo). É imprescindível que um médico seja consultado. Devem ser analisados os possíveis riscos da viagem e as medidas para minimizá-los. As pessoas que necessitam de dieta especial devem contactar, com antecedência, a empresa aérea e os locais de hospedagem para certificarem-se desta disponibilidade.

As medidas de proteção necessárias para evitar as doenças infecciosas devem ser estritamente observadas. O Cartão de Vacinação deve ser atualizado com as vacinas básicas. As pessoas com insuficiência cardíaca deverão receber a vacina contra a gripe (anualmente) e a contra pneumonia  (dose única, em geral). Algumas drogas usadas para a profilaxia da malária são contra-indicadas em pessoas com arritmias, mesmo quando controladas com o uso de medicamentos, ou em uso de beta-bloqueadores (como o propranolol). É importante levar em consideração o nivel de elevação dos locais de destino, em razão dos riscos da doença da altitude e da exposição excessiva à luz solar.

Os endereços e os telefones das representações diplomáticas do Brasil mais próximas nos países de destino podem ser úteis em caso de problemas. Devem ser obtidas informações sobre a estrutura de saúde disponível nos locais de destino. Deve ser considerada a possibilidade de um seguro-saúde específico para viagens. As pessoas  que já dispõem de seguro devem verificar a cobertura em relação a viagens internacionais.

Medicamentos
As pessoas com  doenças do coração devem solicitar ao médico uma prescrição com todos os medicamentos que estão sendo utilizados e um documento que descreva sua condição clínica atual, incluindo alergias e a eventual necessidade de dieta especial ou de oxigênio. Além disto, deve ser registrada a necessidade de profilaxia antibiótica, para os indivíduos que apresentam risco de desenvolvimento de endocardite secundária a procedimentos médicos ou odontológicos. Os indivíduos com próteses metálicas, marcapassos ou desfibriladores implantados devem portar um documento que alerte as administrações dos aeroportos sobre estas condições. Em viagens para o exterior, as prescrições e os documentos devem ser traduzidos para o ingles.

Os medicamentos devem sempre ser levados na bagagem de mão e nas embalagens originais. Estes cuidados reduzem a possibilidade de extravio e evitam problemas com as inspeções alfandegárias. A prescrição deverá conter os nomes químicos, considerando que os comerciais podem mudar de país para país. A quantidade de medicamentos deve ser suficiente para toda a viagem (o cálculo deve ser feito pelo médico), uma vez que nem sempre a mesma formulação estará disponível em todos os locais. Deve ser feita cópia da prescrição para ser utilizada em caso de extravio da original.

Exames complementares
Alguns exames complementares são úteis para eventuais atendimentos médicos durante a viagem. O viajante com doença cardíaca deve levar um eletrocardiograma e, se for portador de insuficiência cardíaca, também um ecocardiograma com o cálculo da fração de ejeção do ventrículo esquerdo. Os exames devem ser recentes (feitos há menos de seis meses).
Viagens aéreas
As empresas aéreas não dispõem de médicos na tripulação. Equipamentos para primeiros socorros, contudo, incluindo desfibriladores, costumam estar disponíveis em vôos internacionais. Algumas empresas possuem esses recursos também nos vôos nacionais.

Os aviões comerciais, comumente, voam a uma altitude de cruzeiro entre 9.000 e 11.000 metros e  são pressurizados para manter uma oxigenação adequada em seu interior. As aeronaves a jato, em geral, mantém uma pressurização interna de 544 mmHg, equivalente à pressão atmosférica de um local com cerca de 2500 metros de altitude. Nesse ambiente existe apenas 71% do oxigênio disponível em um local no nível do mar (como o Rio de Janeiro).

Os indivíduos saudáveis, em geral, não apresentam qualquer desconforto com os níveis de oxigênio encontrados no interior dos aviões. As pessoas com doenças cardíacas ou pulmonares, no entanto, podem apresentar complicações e, portanto, devem ser submetidas a uma avaliação clínica antes de uma viagem. Os indivíduos com doenças cardíacas mais graves, doenças pulmonares associadas (asma, bronquite, DPOC), transplantes cardíacos ou história de intolerância à pressurização dos jatos comerciais (falta de ar, dor no peito, perda de consciência, etc.) devem ainda analisar a capacidade de oxigenação do sangue.

As pessoas que apresentarem, após avaliação, a possibilidade de desenvolver falta de ar durante o vôo deverão receber oxigênio suplementar durante a viagem. Apenas o médico pode fazer a prescrição do oxigênio. Os passageiros não podem embarcar com oxigênio próprio. As pessoas que necessitem de suplemento devem entrar em contato com a empresa aérea para verificar a disponibilidade e os custos do oxigênio. Como as máscaras fornecidas pelas companhias aéreas podem ser desconfortáveis, o viajante deve verificar a possibilidade de levar máscaras pessoais e conectores extras para caso de necessidade. Caso o oxigênio seja necessário antes, durante e depois da viagem, para assegurar um suprimento contínuo, também devem ser feitos contatos com a administração do aeroporto de partida e a do local de destino.

A preferência deve ser por vôos diretos sem escalas, para minimizar a possibilidade da interrupção do fornecimento de oxigênio. Caso isto não seja possível, a mesma empresa aérea deve ser utilizada em todas as escalas. Durante o vôo, os esforços desnecessários devem ser evitados e as orientações do médico estritamente seguidas. Devem ser observadas as medidas necessárias para prevenir a formação de coágulos nas pernas (trombose venosa profunda) durante viagens de longa duração.

As pessoas com infarto cardíaco recente, incluindo as que foram submetidas à cirurgia de revascularização ("pontes"), devem aguardar pelo menos por três semanas após a alta hospitalar para viajarem, sendo necessário que antes sejam submetidas à avaliação médica. Os portadores de marcapassos ou desfibriladores devem verificar com o médico se os detectores magnéticos da segurança dos aeroportos podem ou não interferir com o modelo utilizado. As mulheres com doença cardíaca que estejam grávidas e as crianças com cardiopatia cianótica devem evitar viagens. As pessoas com qualquer doença cardíaca não controlada, que apresentem falta de ar ou dor torácica têm contraindicação absoluta para viagens.

Disponível em 20/02/2003, 21:00 h. Atualizado em 06/07/2011 19:44:34 h

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