Cives
Centro de Informação em Saúde para Viajantes |
Transmissão
Os transmissores de dengue, principalmente o Aëdes aegypti, proliferam-se dentro ou nas proximidades de habitações (casas, apartamentos, hotéis etc) em qualquer coleção de água relativamente limpa (caixas d'água, cisternas, latas, pneus, cacos de vidro, vasos de plantas). As bromélias, que acumulam água na parte central (aquário), também podem servir como criadouros. O único modo possível de evitar ocorrência de epidemias e a introdução de um novo tipo do vírus do dengue é através do controle dos transmissores (Aëdes aegypti e Aëdes albopictus).
A transmissão do dengue é mais freqüente em cidades, mas também pode ocorrer em áreas rurais. Em locais com altitudes superiores a 1200 metros, a transmissão da doença é incomum. Uma pessoa não transmite dengue diretamente para outra. Para que isto ocorra, é necessário que o mosquito se alimente com o sangue de uma pessoa infectada e, após um período de incubação de 8 a 10 dias, pique um outro indivíduo que ainda não teve a doença.
Riscos
Cerca de dois
bilhões e meio de
pessoas vivem em áreas de risco de transmissão de dengue e a doença é endêmica em mais de
100 países de todos os Continentes, com exceção da
Europa. A Organização
Mundial da Saúde estima
que, no mundo, ocorram entre 50 e 100 milhões de casos,
resultanto em cerca de 500 mil internações e 20 mil
óbitos por ano.
No Brasil, a
erradicação
do A. aegypti na década
de 30, levada a cabo para o controle da febre
amarela, fez desaparecer também o dengue. No
entanto,
em 1976 o Aëdes
aegypti foi reintroduzido no Brasil, definitivamente, em Salvador
(BA). Em 1981 ocorreu uma epidemia dengue (vírus 1 e 4)
em Boa Vista
(RR) e, atualmente, a doença é registrada em todas as
Regiões do país [Tabela].
No Rio de Janeiro já ocorreram quatro grandes
epidemias, em 1986-87 (vírus 1), 1990-91 (vírus 2),
2001-02 (vírus 3) e 2007-08
(vírus 2 - principalmente - e 3).
Dengue no Brasil.
Região |
1997 |
1998 |
1999 |
2000 |
2001 |
2002 |
2003 |
2004 |
2005* |
Total |
Norte |
22.174 |
27.018 |
15.118 |
30.848 |
63.400 |
30.672 |
46.672 |
31.573 |
41.487 |
311.657 |
Nordeste |
190.234 |
224.833 |
111.327 |
121.920 |
188.963 |
312.519 |
214.705 |
42.219 |
118.257 |
1.651.121 |
Sudeste |
22.633 |
229.630 |
41.111 |
53.657 |
173.691 |
384.999 |
83.594 |
31.001 |
35.452 |
1.090.062 |
Sul |
1.197 |
2.994 |
1.416 |
4.503 |
3.731 |
16.224 |
22.507 |
3.554 |
5.020 |
66.336 |
Centro-Oeste |
12.965 |
20.552 |
14.115 |
17.197 |
34.529 |
68.690 |
36.164 |
15.528 |
41.580 |
277.101 |
Total |
249.203 |
505.027 |
183.087 |
228.125 |
464.314 |
813.104 |
403.642 |
123.875 |
241.796 |
3.396.277 |
Medidas de proteção individual
A transmissão do dengue ocorre em áreas que também são de risco potencial para febre amarela (a vacina deve estar atualizada) e, geralmente, também para malária. Devem ser adotadas, portanto, medidas de proteção contra infecções transmitidas por insetos, que são as mesmas empregadas contra a febre amarela e a malária. É importante saber que, embora a transmissão dessas doenças possa ocorrer ao ar livre, o risco maior é no interior de habitações.
O viajante deve usar, sempre que possível, calças e camisas de manga comprida, e repelentes contra insetos à base de dietiltoluamida (DEET) ou picaridina (= icaridina) nas áreas expostas do corpo. Antes de adquirir um repelente, certifique-se da concentração de DEET ou picaridina no produto. As concentrações usualmente recomendadas são de 30% a 35% (máximo de 50%) para o de DEET e de 20% para a picaridina. Além disto, em razão do risco de malária, deve procurar hospedar-se em locais que disponham de ar-condicionado ou utilizar mosquiteiros impregnados com permetrina e aplicar inseticida em aerosol nos locais onde for dormir. Em hipótese alguma devem ser utilizados inseticidas na pele.
Recomendações para áreas de transmissão
O dengue é transmitido pela picada de mosquitos (mais comumente o Aëdes aegypti) que proliferam-se dentro ou nas proximidades de habitações. Estes mosquitos criam-se na água, obrigatoriamente. A fêmea do mosquito põe os ovos dentro de qualquer recipiente (caixas d'água, latas, pneus, cacos de vidro etc) que contenha água mais ou menos limpa. Os ovos ficam aderidos às paredes do recipiente, e não morrem mesmo quando a água é retirada. Não adianta, portanto, apenas substituir a água, mesmo que isto seja feito com freqüência. Destes ovos surgem as larvas, que depois de algum tempo vivendo na água, vão formar novos mosquitos adultos.
Quando está ocorrendo epidemias deve ser feita a aplicação de inseticida através do "fumacê", para reduzir a população de mosquitos adultos. O "fumacê" deve ser empregado apenas durante as epidemias, uma vez que a aplicação de inseticidas não acaba com os criadouros e, o que é indesejável, precisaria ser constantemente empregada para eliminar os novos mosquitos que se formam a partir das larvas. O controle do dengue deve ser feito, principalmente, através da eliminação dos criadouros de larvas. Para isto é importante que recipentes que possam encher-se de água sejam descartados ou fiquem protegidos com tampas. Qualquer recipiente com água e sem tampa, inclusive as caixas d'àgua, pode servir de criadouro para os mosquitos que transmitem dengue. Por isto, é importante eliminar os criadouros do mosquito transmissor. Além do dengue, se estará também evitando que a febre amarela, que não ocorre nas cidades brasileiras desde 1942, volte a ser transmitida. As medidas eficazes, em residências, escolas e locais de trabalho, são:
Dengue:
medidas
para
eliminar os criadouros de Aëdes
|
A maioria das pessoas, após quatro ou cinco dias, começa e melhorar e recupera-se por completo, gradativamente, em cerca de dez dias. Em alguns casos (a minoria), nos três primeiros dias depois que a febre começa a ceder, pode ocorrer diminuição acentuada da pressão sangüínea. Esta queda da pressão caracteriza a forma mais grave da doença, chamada de dengue "hemorrágico". Esta designação é imprecisa e pode fazer com que se pense que sempre ocorrem sangramentos, o que não é verdadeiro. A gravidade está relacionada, principalmente, à diminuição da pressão sangüínea, que deve ser tratada rapidamente, uma vez que pode levar ao óbito. O dengue grave pode acontecer mesmo em quem tem a doença pela primeira vez.
As
manifestações iniciais
do dengue são
as mesmas de diversas outras doenças (febre
amarela, malária,
leptospirose).
Também
não
servem para indicar se o dengue vai
ser
mais grave. Por isto é importante sempre procurar
rápido
um Serviço
de
Saúde, para uma avaliação
médica.
A meningite
meningocócica pode ser muito parecida com o dengue
grave, mas a pessoa piora muito mais rápido (logo no primeiro ou
segundo dia de doença). O dengue pode se tornar mais
grave
apenas quando a pessoa começa a melhorar, e o período
mais
perigoso vai até três dias depois que a febre desaparece.
O diagnóstico inicial de dengue
é clínico (história
+ exame físico da pessoa) feito essencialmente por
exclusão
de outras doenças. É muito importante, por exemplo, saber
se a pessoa não está com doença
meningocócica ou leptospirose,
que
são
tratáveis
com
antibióticos. A comprovação sorológica
do diagnóstico
de dengue poderá ser útil para outras finalidades
(vigilância
epidemiológica, estatísticas) e é um direito do
doente,
mas o resultado do exame comumente estará disponível
apenas
após a pessoa ter melhorado, o que o torna inútil para a
condução do tratamento. O exame sorológico
também
não permite dizer qual o tipo de vírus que causou a
infecção
(o que é irrelevante) e nem se o dengue é
"hemorrágico".
Feito o diagnóstico clínico de dengue, alguns exames (hematócrito, contagem de plaquetas) podem trazer informações úteis quando analisados por um médico, mas não comprovam o diagnóstico, uma vez que também podem estar alterados em várias outras infecções. A comprovação do diagnóstico, se for desejada por algum motivo, pode ser feita através de sorologia (exame que detecta a presença de anticorpos contra o vírus do dengue), que começa a ficar reativa ("positiva") a partir do quarto dia de doença.
A "prova do
laço" é um
procedimento (obsoleto) realizado com o aparelho de pressão,
na tentativa de verificar fragilidade dos capilares (pequenos vasos
sangüíneos) e, por vezes, recomendado como critério
para identificar casos de dengue
"hemorrágico". Além do dengue,
a
"prova
do laço" pode estar
positiva em diversas outras doenças (meningococcemia,
leptospirose,
rubéola
etc) e até em pessoas
saudáveis. Também pode
estar negativa nos casos de dengue,
inclusive
nos
mais graves ("hemorrágicos").
Não ajuda, portanto, a concluir se a pessoa está ou
não
com dengue ou se o dengue é mais grave.
Tratamento
O dengue não tem tratamento específico. Quando não há dúvida que a pessoa tem dengue, na maioria das vezes o médico pode recomendar que o tratamento seja feito em casa, basicamente com anti-térmicos analgésicos (febre e dor) e reidratação oral que deve ser iniciada o mais rápido possível. As pessoas que apresentem manifestações compatíveis com dengue devem observar o seguinte:
Dengue:
cuidados
e
informações
Procurar um Serviço
de
Saúde
logo no
começo
das manifestações. Diversas doenças são
muito parecidas com o dengue, e têm outro tipo de
tratamento.
Informar ao médico se estiver em
uso de qualquer remédio.
Alguns medicamentos utilizados no tratamento de outras doenças (Marevan®,
Ticlid®
etc.) podem aumentar o risco de sangramentos.
O tratamento do dengue é
feito com hidratação. Beber bastante líquido,
evitando-se as
bebidas com
cafeína
(café, chá preto). Não é preciso fazer
nenhuma
dieta.
Os medicamentos não alteram
a evolução do dengue e são empregados
apenas para atenuar as manifestações
da
doença
(dor, febre).
Não tomar remédios por
conta
própria. Todos
os
medicamentos podem ter efeitos colaterais e alguns que podem
até
piorar a doença.
Não tomar nenhum remédio
para
dor ou para febre que
contenha
ácido acetil-salicílico (AAS®, Aspirina®,
Melhoral® etc.) - que pode aumentar o risco de sangramento.
Os antiinflamatórios (Voltaren®,
Profenid® etc.)
também não devem ser utilizados como antitérmicos
pelo risco de efeitos colaterais, como hemorragia digestiva e
reações
alérgicas.
Os remédios que contém
dipirona (Novalgina®,
Dorflex®,
Anador® etc.)
devem ser evitados sem prescrição médica,
pois
podem diminuir a pressão ou, às
vezes, causar manchas de pele parecidas com as do dengue.
O paracetamol (Dôrico®, Tylenol® etc.), mais utilizado para tratar a dor e a febre no dengue, deve ser tomado rigorosamente nas doses e no intervalo prescritos pelo médico, uma vez que em doses muito altas pode causar lesão hepática. |
Dengue:
manifestações
indicativas
de gravidade
|
Atualizado em 19/04/2008, 15:17h.
* O Cives utiliza a palavra dengue como substantivo masculino, tal como registrado na maioria dos textos da literatura técnica médica desde que a doença foi descrita no Brasil.
**Superintendência
de
Saúde
Coletiva
da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, com base em
pesquisa do Grupo de Trabalho de Entomologia do
PEAa-RIO.
***SAUD, JI ;
PEDRONI, K. K. L. & NAKANO, O. Efeito
do hipoclorito de sódio sobre larvas do mosquito Aedes aegypti
(Diptera: Culicidae). In:
Simpósio Internacional de Iniciação
Científica da Universidade de São Paulo - SIICUSP, 2002,
Piracicaba.
Resumos, 2002. p. 46-46
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