Cives
Centro de Informação em Saúde para Viajantes |
O sarampo é uma doença infecciosa imunoprevenível, altamente transmissível, causada pelo vírus do sarampo. A doença, que tem transmissão respiratória, geralmente ocorre na infância, mas pode também afetar adultos susceptíveis (não imunes), que nunca tiveram a doença ou não foram não adequadamente vacinados. O sarampo ainda é uma das causas mais frequentes de óbito em crianças no mundo, particularmente em países onde a cobertura vacinal é insatisfatória.
Transmissão
O ser humano é o único hospedeiro natural do vírus do sarampo e a doença ocorre apenas uma vez na vida. O período de transmissão do sarampo começa quatro dias antes do aparecimento do exantema cutâneo (manchas avermelhadas na pele) e se estende até quatro dias depois. A transmissão para uma pessoa susceptível (não imune) ocorre através do contato com as secreções respiratórias (gotículas de saliva, espirro, tosse) de um indivíduo infectado. O risco de transmissão do sarampo é maior entre início e o quarto dia do período de exantema cutâneo.
Após a
transmissão, o vírus do sarampo
se
replica na mucosa da nasofaringe e nos gânglios linfáticos
regionais. Dois a três dias após ocorre
disseminação através da corrente
sanguínea (viremia primária) para o sistema
retículo-endotelial, onde o vírus se replica. Entre
Riscos
A Organização Mundial
da Saúde estima que ocorram cerca de 30 milhões de casos
de sarampo
a cada ano e, em 2004, 454 mil óbitos, a despeito da vacina
estar
disponível desde 1963. Em países da África
subsaariana e
do subcontinente indiano, nos quais ocorre a maioria dos casos, o sarampo
ainda é a principal
causa de morte por doença imunoprevenível. Nestas
regiões, o sarampo atinge frequentemente
crianças com menos de
9 meses, particularmente vulneráveis às formas mais
graves
de doença. Adicionalmente,
o risco de aquisição do
sarampo
também pode existir em países mais desenvolvidos. Em
2006,
diversos de surtos
de sarampo foram
registrados em países como Bielo-Rússia,
Dinamarca,
Alemanha, Grécia, Inglaterra, Itália,
Polônia, Espanha, Suécia, Ucrânia e Venezuela. O elevado
número de pessoas que deslocam (trabalho ou turismo) de
e para áreas de risco
de transmissão, faz com que
exista risco permanente de
reintrodução, em
áreas onde a transmissão autóctone de sarampo
(e outras
infecções) foi
interrompida e a cobertura vacinal não é adequada.
No entanto, o controle efetivo da transmissão e a erradicação
(eliminação mundial) do sarampo parecem
possíveis, uma vez que os seres humanos
são os únicos reservatórios do vírus e a
vacina
(isolada ou em associação) é altamente eficaz.
No Brasil, ocorriam epidemias de sarampo a cada 2 ou 4 anos nos grandes aglomerados urbanos, e foram registrados 775.973 casos entre 1980 e 1995. A partir de 1992, com a implementação do Plano de Nacional de Eliminação do Sarampo, ocorreu uma importante redução do número de casos no país. Em 1997, entretanto, houve a uma epidemia com mais de 50 mil casos, a maioria nos Estados do Rio de Janeiro e São Paulo. Desde então, a intensificação das ações de controle (vacinações de bloqueio, implantação da segunda dose da vacina, expansão da população alvo) ocasionou a queda do número de casos e, desde 2001, a interrupção da transmissão autóctone do sarampo [Tabela]. O último caso de transmissão autóctone, não relacionada a casos importados, foi registrado em Mato Grosso do Sul, em novembro de 2000. Entre 2001 e 2005, foram registrados nove casos de sarampo, todos relacionados a viajantes que adquiriram a infecção em outros países (Japão, Alemanha e Ilhas Maldivas).
Região |
1996 |
1997 |
1998 |
1999 |
2000 |
2001 |
2002 |
2003 |
2004 |
2005* |
Total |
Norte |
95 |
231 |
245 |
91 |
17 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
679 |
Nordeste |
170 |
4.547 |
607 |
369 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
5.693 |
Sudeste |
318 |
45.503 |
618 |
359 |
15 |
1 |
1 |
0 |
0 |
2 |
46.817 |
Sul |
169 |
1.770 |
1.046 |
39 |
3 |
0 |
0 |
2 |
0 |
4 |
3.033 |
Centro-Oeste |
39 |
1.613 |
265 |
50 |
1 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
1.968 |
Total |
791 |
53.664 |
2.781 |
908 |
36 |
#1 |
#1 |
#2 |
0 |
#6 |
58.190 |
Medidas de proteção
A vacina
contra o sarampo
confere imunidade contra a
infecção em mais de 95% das pessoas. A vacina é
produzida com vírus
atenuados e pode ser utilizada de forma isolada ou em
associação com a da rubéola
("dupla
viral"
ou SR) ou, adicionalmente, com a da caxumba ("tríplice
viral", SRC ou MMR).
A
realização de testes
sorológicos antes da aplicação da vacina contra o sarampo é, geralmente,
desnecessária.
A
vacina contra o sarampo, como
qualquer outra, pode ter contra-indicações
e produzir efeitos
colaterais, em geral pouco frequentes e desprovidos de
gravidade. Como todas as vacinas produzidas com vírus atenuados
está contra-indicada
durante a gestação. Como regra geral, pelo mesmo motivo,
também não deve ser utilizada em
imunodeficientes, exceto em
situações especiais e com avaliação
médica.
No Calendário
de
Vacinação atual está prevista a
aplicação da MMR
para
crianças em duas doses, a primeira aos doze meses e a
segunda entre 4 e 6 anos. A vacina também está
disponível nos Centros
Municipais
de Saúde, em dose única, para
adolescentes e adultos (mulheres
até 49 anos e homens até 39 anos). Embora o risco de
teratogênese
(mal-formações congênitas) com o vírus
vacinal pareça ser pequeno, a gravidez deve ser evitada durante,
pelo menos, os 30 dias seguintes à aplicação da
vacina. Para reduzir as chances de infecção de pessoas
que tenham contra-indicações (como gestantes e
imunodeficientes), os contactantes podem
e devem ser vacinados contra
a rubéola (inclusive com a
MMR),
uma vez
que o vírus vacinal não é
transmissível.
No
Brasil, o sarampo passou fazer parte da lista
de doenças de
notificação compulsória em
1968. Todos os casos com suspeita diagnóstica de sarampo devem
ser notificados ao Centro
Municipal
de Saúde mais próximo, para que possam
ser adotadas, rapidamente, medidas que diminuam o risco de
disseminação
da infecção para a população. A MMR
pode ser utilizada para bloqueio de surtos
ou epidemias de sarampo (ou
de
rubéola, ou
de caxumba),
com o objetivo de proteger os
indivíduos não imunes,
ou
seja, os que nunca tiveram sarampo
e os que ainda não tenham sido vacinados de forma adequada. A
vacinação precoce (feita até 72 horas depois do
contato), pode impedir o
desenvolvimento do sarampo, porém não é
capaz
de evitar a rubéola
e nem a caxumba.
A evidência de imunidade contra sarampo é dada pela comprovação sorológica da infecção ou pela imunização (Sarampo, SR ou MMR) documentada com o Cartão de Vacinação. Nas condições epidemiológicas atuais, onde os casos são raros, a história de "sarampo" com diagnóstico exclusivamente clínico, sem comprovação sorológica, não permite presumir com grau de certeza razoável a existência de imunidade contra a doença. O Cives recomenda que o viajante não vacinado, que não tenha comprovação sorológica de imunidade, observando-se as contra-indicações, receba a vacina ou, eventualmente, realize exames laboratoriais para verificar a imunidade contra sarampo.
Manifestações
O período entre a infecção e o
início
dos
sintomas (incubação) é de cerca de 10 dias (8 a
14).
As manifestações iniciais do sarampo
(período prodrômico) são febre
alta (39-40 °C), tosse "seca" persistente, coriza, conjuntivite e
aumento dos gânglios linfáticos (linfonodos) do
pescoço. No final do período prodrômico, que dura
entre um e sete dias (comumente dois a quatro), surgem
pequenos pontos branco-azulados (manchas de Koplik) na mucosa oral
próxima aos molares, que são característicos do sarampo.
Um a dois dias depois de surgirem as manchas de Koplik, aparecem
manchas avermelhadas na
pele (exantema máculo-papular eritematoso), inicialmente
na linha de implantação dos cabelos e que
progridem da face em direção aos pés
(progressão
céfalo-caudal). As manchas de Koplik desaparecem um a dois dias
depois do início do exantema cutâneo, que geralmente tem
cinco a
seis dias de duração.
Em cerca de 30% das pessoas com sarampo podem ocorrer complicações, que são mais frequentes em crianças com menos de cinco e adultos com mais de vinte anos. As mais comuns são diarréia, otite e pneumonia, causadas pelo próprio vírus do sarampo ou secundariamente, por bactérias. A encefalite (acometimento do sistema nervoso central) pode ocorrer na proporção de um para cada mil casos. O sarampo geralmente é mais grave em desnutridos, gestantes, recém-nascidos e pessoas portadoras de imunodeficiências. Em gestantes, pode causar abortos espontâneos e partos prematuros, porém não existe comprovação da associação entre infecção pelo sarampo e casos de malformações congênitas. O sarampo também pode agravar a tuberculose, em pessoas que ainda não receberam tratamento para esta doença. A infecção pelo vírus do sarampo produz imunidade permanente, ou seja, ocorre apenas uma vez na vida.
Tratamento
Não existe tratamento específico para o sarampo. Os antitérmicos e analgésicos podem ser utilizados para controlar a febre. Os medicamentos que contenham em sua formulação o ácido acetil-salicílico (AAS®, Aspirina®, Doril®, Melhoral® etc) não devem ser usados, pelo risco de ocorrerem sangramentos (o sarampo diminui o número de plaquetas) e, em crianças, também pela possibilidade de Síndrome de Reye. As complicações bacterianas (otite, pneumonia) devem ser tratadas com antibióticos adequados, que devem visar os agentes mais comumente envolvidos e ter ação contra o Staphylococcus aureus que é uma importante causa de infecção secundária no sarampo.
Disponível em 02/12/2006, 09:21 h.
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