Cives
Centro de Informação em Saúde para Viajantes


África do Sul: riscos para a saúde

Fernando SV Martins
& Luciana GF Pedro

A África do Sul é a sede da 19ª edição da Copa do Mundo de Futebol da FIFA (Fédération Internationale de Football Association), competição que terá início em 11 de junho de 2010. Como em qualquer outro país, existem diversos riscos para a saúde do viajante, alguns inexistentes no Brasil ou maiores do que os encontrados aqui. A informação sobre os possíveis riscos é fundamental para uma viagem mais segura.

Documentos

É necessário apresentar o passaporte com validade maior que um mês em relação à data de retorno ao Brasil, com pelo menos duas páginas em branco. Brasileiros não necessitam de vistos de turista para uma permanência de até 90 dias. A não apresentação do Certificado Internacional de Vacinação e Profilaxia (ou do Certificado de Isenção) pode resultar na deportação do viajante. Foi desenvolvido pelas autoridades sul-africanas um plano de atendimento especial em portos e aeroportos, para os viajantes portadores de ingressos para os jogos da Copa 2010. Informações adicionais sobre os requisitos de entrada, assistência consular e endereços das representações diplomáticas do Brasil na África do Sul podem ser encontrados no Guia do Torcedor do Ministério das Relações Exteriores.

Como em qualquer viagem, é importante que seja feita uma fotocópia do passaporte e da carteira de identidade, que devem ser guardadas separadamente dos originais. Isto facilitará a obtenção de novos documentos, em caso extravio. Deve ser informado, na última página do passaporte, quem deve ser avisado em caso de emergência. Adicionalmente, o viajante deve levar, por escrito, informações sobre doenças em tratamento e alergias, e uma fotocópia do Cartão de Vacinação. Caso faça uso de medicamentos, deve estar de posse das receitas (em inglês, preferencialmente).

Cidades sede, visitantes e níveis de ruido

A Copa do Mundo de Futebol ocorrerá entre 11 de junho e 11 de julho de 2010, durante o inverno sul-africano. Trinta e duas seleções disputarão 64 jogos distribuídos em nove cidades (Bloemfontein, Cidade do Cabo, Durban, Johanesburgo, Nelspruit, Polokwane, Porto Elizabeth, Pretória e Rustenburgo). O primeiro jogo disputado pela seleção brasileira será em 15 de junho, em Johanesburgo. Estima-se que a África do Sul receba cerca de 200 mil visitantes durante a Copa.

O nivel de ruido produzido pelas vuvuzelas, um tipo de corneta tradicionalmente usada pelas torcidas na África do Sul, pode chegar a uma média de 100 e a picos de 140 decibéis, durante jogos com mais de 30 mil espectadores. Níveis de ruído acima de 85 decibéis causam desconforto e podem resultar em deficit auditivo, em geral reversível, por trauma acústico. Enquanto estiver exposto ao som das vuvuzelas, o viajante deve usar protetor auditivo de eficiência adequada durante todo o tempo. A não utilização, mesmo que por intervalo tempo muito curto, reduz drasticamente a proteção efetiva, independentemente do nível de atenuação nominal do protetor.

Capitais, idiomas e clima

A África do Sul possui três capitais, Cidade do Cabo (legislativa), Bloemfontein (judiciária) e Pretória (administrativa) e onze idiomas oficiais. O inglês é a lingua mais utilizada  na administração e no comércio. Pretória tem 5 horas a mais em relação ao fuso horário de Brasília. As estações do ano são correspondentes às da mesma data no Brasil. O inverno começa em junho e as temperaturas mínimas médias nas cidades-sede da Copa podem variar de -2°C (Bloemfontein) a 11°C (Durban). O viajante deve estar preparado com roupas adequadas para o inverno, inclusive luvas. Adicionalmente, existe a possibilidade de exposição excessiva à luz solar. Para a pele, deve empregar filtro com fator de proteção solar (FPS) superior a 15, capaz de proteger contras raios ultravioleta A e B. Deve ainda utilizar filtros apropriados para os lábios, também com FPS superior a 15.

Vacinas

As vacinas têm papel importante na prevenção de doenças infecciosas e, independentemente de qualquer viagem, o Calendário Vacinal adequado para cada faixa etária (crianças, adolescentes e adultos) deve estar atualizado. A necessidade da indicação de vacinas adicionais deve ser avaliada individualmente em consulta médica pré-viagem, considerando a história clínica e vacinal do viajante, o roteiro, o tempo de permanência, o “estilo" da viagem e as atividade programadas. Em nenhuma hipótese devem ser indicadas apenas devido aos riscos existentes em um lugar. Além disto, ainda que sejam muito eficazes, as vacinas não são isentas de falhas e nem estão disponíveis para todas as doenças. Em razão disto, a indicação de vacinas não exime o viajante de adotar outras medidas de proteção (como cuidados com consumo de água e de alimentos, a utilização de repelentes e mosquiteiros, uso de preservativos etc.).

Viagens aéreas

Durante qualquer viagem aérea devem ser adotadas as medidas preventivas contra o barotrauma de ouvido médio e a trombose venosa profunda. barotrauma de ouvido médio ocorre mais freqüentemente durante os procedimentos de aterrissagem e pode ser uni ou bilateral. O risco de trombose venosa profunda, que pode ocorrer durante ou após viagens, é proporcional  ao período de imobilidade e mais significativo quando a  duração da viagem é superior a cinco horas. Além disto, a doença é mais freqüente em viajantes que tenham fatores individuais de risco, como uso de anticoncepcionais, gestação, obesidade, idade superior a quarenta anos, infarto recente etc.

Acidentes e violência

Os acidentes automobilísticos são uma das principais causas de hospitalização e morte entre os viajantes. Na África do Sul, o tráfego de veículos é feito pela esquerda (mão inglesa) o que pode aumentar o risco de acidentes para viajantes não habituados (mesmo pedestres). O níveis de criminalidade são altos. A violência sexual é um problema importante e o índice de estupros é o mais elevado do mundo. Ainda que as medidas de segurança habitualmente sejam rigorosas, a Copa é um evento que atrai a atenção mundial e a possibilidade de um ataque terrorista sempre deve ser levada em consideração.

Doenças infecciosas

As doenças transmitidas por água e alimentos estão entre os principais riscos para a saúde em razão de viagens. Na África do Sul, o risco de aquisição destas doenças (diarréia dos viajantes, intoxicações alimentares, hepatite A etc.) é significativo em todo o país. A transmissão da febre tifóide pode ocorrer em qualquer região, porém o risco é maior em pequenas cidades e vilarejos. Existe a possibilidade de surtos localizados de cólera em áreas com infraestrutura de saneamento básica precária. Não há evidências de circulação do vírus da poliomielite no país e o último caso autóctone foi confirmado em 1989. No entanto, como a doença ainda é endêmica na Nigéria e existe transmissão ativa (últimos 6 meses) em outros países africanos (Angola, Níger, Senegal etc.) existe o risco potencial de reintrodução do vírus.

A disseminação das doenças de transmissão respiratória (gripe, sarampo, catapora, tuberculose, meningite meningocócica etc.) é facilitada pela aglomeração de pessoas. O risco de transmissão da tuberculose é maior quando há contato prolongado com pessoas que apresentem manifestações da doença (principalmente tosse) em ambientes com pouca ventilação. A transmissão da gripe ocorre principalmente durante o inverno. Na África do Sul, em todas as Províncias, está ocorrendo um surto de sarampo, desde setembro de 2009.

Os riscos de doenças sexualmente transmissíveis (DST) existem em todos os países. A prática de sexo não protegido é freqüente durante as viagens, principalmente nas de longa duração, e pode ser facilitada pela sensação de anonimato e uso de bebidas alcoólicas ou drogas ilícitas. Na África do Sul o risco de aquisição de DST é elevado. Entre a população de 15-49 anos, cerca de 20% é infectada pelo HIV e aproximadamente 10% é portadora do vírus da hepatite B.

Na África do Sul existe risco de doenças transmitidas por insetos e carrapatos. As cidades-sedes dos jogos estão localizadas fora da área de risco para malária, porém a transmissão pode ocorrer em áreas das Províncias de Limpopo, de Mpumalanga (incluindo o Kruger Park) e de KwaZulu-Natal. Desde fevereiro de 2010, está ocorrendo um surto de febre do Vale Rift nas Províncias de Free State, Northern Cape, Eastern Cape e North West. A doença é transmitida por picadas de mosquitos (gênero Aëdes) ou, mais comumente, através do contato com secreções de animais doentes. O risco de riquetsioses transmitidas por carrapatos existe principalmente em áreas rurais ou periurbanas, onde há maior chance de contato com os vetores. A África do Sul não é área de risco de febre amarela, porém o Certificado Internacional de Vacinação é exigido para entrada de viajantes oriundos de países endêmicos, inclusive o Brasil.

As doenças infecciosas resultantes de traumatismos e acidentes com animais podem ser um problema em qualquer viagem. A ocorrência de pequenos ferimentos durante viagens é relativamente comum. Quando não adequadamente tratados, podem resultar em doenças potencialmente fatais, como sepse (infecção generalizada), tétano e, no caso de mordeduras por animais, a raiva. O risco de aquisição de tétano, para pessoas não adequadamente imunizadas, existe em qualquer país do mundo e a doença pode ser resultado de qualquer tipo de ferimento (devido a animais ou não). Na África do Sul, o risco de transmissão da raiva existe em todas as regiões, em caso de acidentes com mamíferos (cães, gatos, morcegos etc.). Os acidentes com animais silvestres devem ser sempre considerados de alto risco para raiva, mesmo que estes estejam vivendo em ambiente doméstico.

O contato com água em razão de motivos profissionais, de recreação ou de situações de desastres naturais (inundações) pode envolver riscos de adoecimento. A leptospirose é uma doença bacteriana amplamente distribuída no mundo. É mais comumente adquirida através da penetração da Leptospira interrogans na pele ou em mucosas, devido ao contato com água ou solo (úmido) contaminados com a urina de animais. Na África do Sul também existe risco de esquistossomose (intestinal e urinária), uma verminose causada por espécies de Schistosoma. A transmissão da esquistossomose pode ocorrer através do contato com água doce (rios, lagos, lagoas). A leptospirose e a esquistossomose (exceto a urinária) também ocorrem no Brasil.

Acidentes com animais

Os riscos de acidentes com animais existem em todos os países. A África do Sul é habitat de grandes animais (leões, leopardos, elefantes, rinocerontes, hipopótamos, búfalos, crocodilos etc.) e também de algumas das mais perigosas serpentes do mundo, como a mamba negra e a mamba verde. Como regra geral, o viajante não deve se aproximar de animais (selvagens ou domésticos), por mais amistosos e inofensivos que possam parecer. Entre os animais selvagens, o "simpático" hipopótamo é o responsável pelo maior número de ataques e mortes de seres humanos. Quando em visita aos parques nacionais, o viajante deve seguir atentamente as instruções dos guias.

O viajante também deve procurar obter informações sobre os riscos e observar os avisos existentes em praias. Na África do Sul, existe risco de ataques de tubarões e o pais é o terceiro do mundo em número de casos notificados. Entre 1905 e 2009, segundo o International Shark Attack File, foram registrados 219 ataques, que resultaram em 45 mortes.

Assistência médica e dentária

Na África do Sul, a assistência médica e dentária é adequada nas grandes cidades e em áreas próximas aos parques nacionais, porém o custo pode ser elevado. Nas áreas rurais, entretanto, a assistência pode ser precária. Uma revisão dentária deve ser feita antes da viagem, principalmente quando existirem problemas crônicos. O viajante deve ainda considerar a possibilidade de contratar um seguro de saúde para a viagem.

Adoecimento após o retorno

Nenhuma medida de proteção é isenta de falhas. O viajante, por desconhecer os riscos ou por não observar adequadamente as medidas de prevenção, pode adquirir infecções e vir a adoecer rapidamente ou, ainda, permanecer sem apresentar manifestações de doença (assintomático) por tempo prolongado. Ao retornar, o viajante deve procurar assistência médica caso apresente alguma manifestação de doença (diarréia, febre, lesões genitais ou de pele etc.) ou quando não tiver adotado as medidas de proteção adequadas durante a viagem. A presença de febre, durante ou após a estada em área de risco de transmissão de malária, é uma urgência médica diagnóstica e o viajante deverá procurar atendimento em até 24 horas. O período de incubação da malária é de no mínimo 7 dias, porém as manifestações podem surgir muito tempo depois da exposição ao risco (semanas a meses, raramente maior que 1 ano).

Disponível em 02/06/2010, 23:25 h. Atualizado em 04/06/2010, 21:45 h.
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