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Tétano
Fernando S. V. Martins & Terezinha Marta P.P. Castiñeiras
O tétano é uma doença infecciosa grave, imunoprevenível, causada pela toxina tetânica que é produzida pelo Clostridium tetani, uma bactéria encontrada comumente no ambiente sob a forma de esporos (formas de resistência). O tétano pode acometer indivíduos de qualquer idade e não é transmissível de uma pessoa para outra. A ocorrência da doença é mais freqüente em regiões onde a cobertura vacinal da população é baixa e o acesso á assistência médica é limitado.
Transmissão
O tétano
é uma doença infecciosa, não transmissível
de um indivíduo para outro, que pode ocorrer em pessoas não imunes ou seja, sem
niveis adequados de anticorpos protetores. Os anticorpos protetores são induzidos exclusivamente pela aplicação da vacina antitetânica, uma vez que a toxina tetânica é capaz de produzir a doença mas não a imunidade. O tétano pode ser adquirido através da contaminação de ferimentos (tétano acidental), inclusive os crônicos (como úlceras varicosas) ou do cordão umbilical (tétano neonatal).
Tétano acidental
O tétano acidental (decorrente de acidentes) é, geralmente, é
adquirido
através da contaminação de ferimentos (mesmo
pequenos) com esporos do Clostridium tetani, que são encontrados no ambiente (solo, esterco, superfície
de objetos - pricipalmente quando metálicos enferrujados). O Clostridium tetani, quando contamina ferimentos, sob condições favoráveis (presença
de tecidos mortos, corpos estranhos e sujeira), torna-se capaz de produzir
uma toxina, que atua em terminais nervosos, induzindo contrações
musculares intensas.
Tétano neonatal
As gestantes que nunca foram vacinadas, além de estarem desprotegidas
não passam anticorpos protetores para o filho, o que acarreta risco de tétano neonatal para
o recém-nato (criança com até 28 dias de idade). O tétano neonatal (tétano umbilical, "mal dos sete dias") é adquirido quando ocorre contaminação do cordão
umbilical com esporos do Clostridium tetani. A contaminação pode ocorrer durante a secção do cordão com instrumentos não esterilizados ou pela utilização subseqüente de substâncias
contaminadas para realização de curativo no coto umbilical (esterco, fumo, pó de café,
teia de aranha etc).
Riscos
O risco de aquisição de tétano, para pessoas não adequadamente imunizadas, existe em qualquer país do mundo, uma vez que a distribuição do Clostridium
tetani é universal. No
Brasil vem se observando uma redução significativa do número de casos de tétano a cada ano,
tanto do acidental (Tabela 1) quanto do neonatal (Tabela 2), o que é um reflexo direto do aumento da cobertura vacinal, principalmente a infantil.
O tétano acidental ocorre em pessoas não foram vacinadas ou que receberam esquemas incompletos. Embora o risco de
desenvolvimento de tétano seja maior em
pessoas com ferimentos mal cuidados ou com corpos estranhos
(terra, café, fragmentos metálicos e de madeira), a doença pode
ocorrer até mesmo sem lesão aparente (10% a 20% dos casos). Isto torna a
vacinação essencial, independentemente da ocorrência de ferimentos.
Região |
1996 |
1997 |
1998 |
1999 |
2000 |
2001 |
2002 |
2003 |
2004 |
2005* |
Total |
Norte |
129 |
112 |
101 |
111 |
94 |
75 |
86 |
82 |
52 |
40 |
882 |
Nordeste |
421 |
369 |
261 |
234 |
260 |
239 |
235 |
197 |
179 |
157 |
2.552 |
Sudeste |
224 |
166 |
166 |
131 |
124 |
125 |
150 |
92 |
108 |
96 |
1.382 |
Sul |
179 |
188 |
99 |
142 |
108 |
114 |
131 |
96 |
94 |
65 |
1.216 |
Centro-oeste |
72 |
61 |
52 |
65 |
42 |
31 |
35 |
34 |
46 |
33 |
471 |
Total |
1.025 |
896 |
679 |
683 |
628 |
584 |
637 |
501 |
479 |
391 |
6.503 |
O tétano neonatal ocorre em recém-natos, filhos de gestantes não adequadamente vacinadas. O risco é maior quando o parto é feito em domicílios, na área
rural e por curiosos. Nestas circunstâncias, como parece, o risco de tétano materno também é elevado. A OMS (2002) estima que ocorram, no mundo, 180 mil óbitos por tétano neonatal e 30 mil por tétano materno.
Região |
1996 |
1997 |
1998 |
1999 |
2000 |
2001 |
2002 |
2003 |
2004 |
2005* |
Total |
Norte |
14 |
15 |
16 |
16 |
9 |
12 |
9 |
6 |
5 |
5 |
107 |
Nordeste |
54 |
54 |
40 |
27 |
18 |
14 |
18 |
7 |
6 |
5 |
243 |
Sudeste |
15 |
13 |
11 |
10 |
7 |
4 |
3 |
0 |
2 |
0 |
65 |
Sul |
4 |
7 |
3 |
7 |
4 |
2 |
1 |
2 |
0 |
0 |
30 |
Centro-Oeste |
6 |
12 |
4 |
6 |
3 |
2 |
2 |
0 |
1 |
0 |
36 |
Total |
93 |
101 |
74 |
66 |
41 |
34 |
33 |
15 |
14 |
10 |
481 |
Medidas de proteção individual
O tétano é uma doença imunoprevenível. Como não é possível eliminar os esporos do
Clostridium
tetani do ambiente, para evitar a doença é essencial
que todas as pessoas estejam adequadamente
vacinadas. Grande parte da população adulta nunca recebeu,
ou desconhece que tenha recebido a vacina contra o tétano e necessita, portanto, do esquema vacinal completo. Na abordagem
dos ferimentos de maior risco, caso o
indivíduo não esteja adequadamente
imunizado, haverá necessidade de aplicação
de soro, ou imunoglobulina específica para prevenção da doença.
A vacina contra o tétano (toxóide tetânico) foi desenvolvida em 1924 e extensamente utilizada durante a II Guerra Mundial. A vacina está
disponível nos Centros
Municipais de Saúde para pessoas de qualquer idade. Em adultos, o esquema
vacinal completo é feito com três doses da dT (vacina
dupla, própria para adultos), que confere proteção
contra o tétano e a difteria. O esquema padrão
de vacinação (indicado para os maiores de sete anos)
preconiza um intervalo de um a dois meses entre a primeira e a segunda
dose e de seis a doze meses entre a segunda e a terceira dose, no intuito
de assegurar títulos elevados de anticorpos protetores por tempo
mais prolongado. Admite-se, entretanto, que a vacinação possa
ser feita com intervalo mínimo de 30 dias entre as doses. Para os
que iniciaram o esquema e interromperam em qualquer época, basta
completar até a terceira dose, independente do tempo decorrido desde
a última aplicação. Para assegurar proteção permanente, além da série
básica, é necessária a aplicação de
uma dose de reforço a cada dez anos, uma vez que os níveis de anticorpos
contra o tétano vão se reduzindo com o passar do tempo.
A dT pode ser administrada com segurança em gestantes e constitui a principal medida de prevenção do tétano neonatal, não se eximindo a importância do parto em condições higiêncas e do tratamento adequado do coto umbilical. Para garantir proteção adequada para a criança contra o risco de tétano neonatal, a gestante que tem o esquema vacinal completo com a última dose feita há mais de cinco anos deve receber um reforço no sétimo mês da gravidez.
Independentemente do esquema vacinal estar completo ou não, a limpeza do ferimento com água e sabão, e a retirada corpos estranhos (terra, fragmentos metálicos e de madeira) é essencial, até para evitar infecção secundária com outras bactérias. Se o indivíduo não estiver com o esquema completo, dependendo do tipo de ferimento, pode ser necessário que, além da vacina, receba também imunização passiva, feita com a imunoglobulina antitetânica (de origem humana). O soro antitetânico (produzido em cavalos) deve ser empregado apenas quando não a imunoglobulina não estiver disponível, uma vez que a presença de proteínas de origem animal em sua composição torna mais provável a ocorrência de reações alérgicas. A imunização passiva tem a finalidade de fornecer proteção temporária (17 a 24 dias), enquanto a vacina começa induzir a produção de anticorpos protetores pelo organismo. É muito importante, portanto, completar nos Centros Municipais de Saúde a vacinação antitetânica iniciada nos Hospitais de Emergência, até a terceira dose (com intervalo mínimo de um mês)
Manifestações
O período de incubação médio do tétano acidental é de 10 dias (podendo variar de 2 a 21 dias) e o do tétano neonatal ("mal dos sete dias") é de cerca de 7 dias (geralmente entre 4 e 14 dias). Quanto menor o período de incubação, maior a gravidade da doença. As primeiras manifestações são dificuldade de abrir a boca (trismo) e de engolir. Na
maioria dos casos, ocorre progressão para contraturas musculares generalizadas,
que, quando comprometem os musculos respiratórios, podem colocar em risco a
vida do indivíduo.
Tratamento
O tratamento do tétano, necessariamente, é feito
com o doente internado em hospital para administração de
soro antitetânico ou
imunoglobulina, antibiótico venoso e limpeza cirúrgica do
ferimento. Como a doença não produz imunidade, o doente deve também receber o esquema vacinal completo contra o tétano, que geralmente é feita durante o período de convalescência. Em geral são utilizados miorrelaxantes potentes,
incluindo, eventualmente, o curare, aplicados por via venosa. Pode ser necessário o emprego de próteses respiratórias
(“respiradores”). Os doentes devem ser mantidos sob vigilância constante, de preferência em
Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
O período internação de uma pessoa com tétano é prolongado, e geralmente fica entre três e quinze semanas. Os
custos do tratamento são extremamente elevados e equivalentes a
algumas dezenas de milhares de doses da vacina. A letalidade
média do tétano, que depende de fatores como acesso á assistência médica e
disponibilidade de recursos terapêuticos, é de cerca
de 30% e pode atingir a 80% em
neonatos e em pessoas com mais de 60 anos.
Atualizado em 16/10/2006, 19:09h.
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