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Centro de Informação em Saúde para Viajantes |
Fernando S. V. Martins, Terezinha Marta P.P. Castiñeiras
Em situações de desastres, como inundações, há uma demanda natural da população por medidas que possam minimizar os efeitos e os riscos decorrentes. Em resposta, não raro, vê-se - por alguma razão, não muito clara - o estabelecimento de "campanhas" de imunização e, por vezes, tentativas de distribuição de medicamentos "profiláticos" para as populações atingidas. Essas medidas, além de técnicamente incorretas, são improdutivas e desviam recursos e força de trabalho das ações que realmente são efetivas. Além disso, podem dar à população uma falsa sensação de segurança, levando-a a não observar regras básicas de higiene e a não procurar rapidamente as Unidades de Saúde em caso de adoecimento. As ações para minimizar os riscos de infecções e de suas possíveis conseqüências devem ser imediatas e efetivas. É essencial que as populações atingidas tenham acesso a:
A leptospirose, a hepatite A , hepatite E, as doenças diarreicas e a febre tifóide ocorrem mais comumente em áreas onde a infra-estrutura de saneamento básico é inadequada ou inexistente. Podem ser adquiridas pela ingestão de água e alimentos contaminados pelas inundações (leptospirose , hepatite A, hepatite E, doenças diarreicas, febre tifóide e cólera) ou através do contato direto das pessoas com a água e a lama das enchentes (leptospirose).
A leptospirose é causada por uma bactéria, a Leptospira interrogans, que é eliminada através da urina de animais, principalmente o rato de esgoto, e sobrevive no solo úmido e na água. As inundações facilitam o contato da bactéria com seres humanos. A Leptospira interrogans pode penetrar no organismo através do contato da pele e de mucosas com a água e a lama das enchentes. A infecção também pode ocorrer por ingestão, uma vez que as inundações podem contaminar a água de uso doméstico e os alimentos. As manifestações, quando ocorrem, aparecem entre 2 e 30 dias após a infecção. A distribuição indiscriminada de antibióticos para a população como profilaxia da leptospirose é tecnicamente inadequada. Além de ser ineficaz para evitar ou controlar epidemias, desvia inutilmente recursos humanos e financeiros. É mais racional diagnosticar e tratar precocemente os casos suspeitos. As manifestações iniciais da leptospirose são clinicamente indistingüiveis das do dengue.
A hepatite A é causada por um vírus. A transmissão do vírus da hepatite A é fecal-oral, e pode ocorrer por meio da ingestão de água e alimentos contaminados ou diretamente de uma pessoa para outra. A infecção é muito comum onde o saneamento básico é deficiente ou não existe, mesmo sem a ocorrência de inundações. Como conseqüência, a maioria da população dessas áreas foi infectada quando criança e tem imunidade contra a doença. Em crianças, a hepatite A é freqüentemente assintomática ou tem manifestações discretas. A vacinação contra a hepatite A, que ainda tem custo elevado, é feita com duas doses, observando-se um intervalo de seis meses entre elas. Poderá ser mais útil quando for introduzida no esquema básico de imunização da infância. A hepatite E, para a qual ainda não existe vacina disponível, tem transmissão e evolução semelhantes às da hepatite A, porém está mais associada a inundações. A hepatite B é transmitida por relações sexuais e por transfusões de sangue. A vacinação produz imunidade apenas após a aplicação de três doses, que são feitas ao longo de seis meses. Portanto, a vacinação contra a hepatite B não é procedimento útil em caso de enchentes.
A febre tifóide é uma doença causada pela Salmonella typhi, uma bactéria que é adquirida através da ingestão de água e alimentos contaminados. Durante as inundações não parecer haver risco significativo de epidemias, uma vez que para ocorrer infecção é necessário a ingestão de uma grande quantidade (inóculo) de bactérias (possivelmente há uma "diluição"). Pode haver contudo, contaminação de poços, sistemas de abstecimento e de alimentos, com subsequente proliferação bacteriana possibilitando a ocorrência de casos. As vacinas (injetável ou oral) contra a febre tifóide conferem apenas proteção transitória em 40-90% das pessoas e não estão indicadas para evitar a ocorrência de epidemias. A profilaxia mais efetiva é feita através do tratamento correto da água e da preparação adequada de alimentos.
O tétano é causado pela contaminação de ferimentos com o Clostridium tetani, uma bactéria que é encontrada normalmente no ambiente (solo, esterco, superfície de objetos). Os transtornos causados pelas enchentes (remoção de entulhos e lama etc.) podem ser fatores facilitadores para ferimentos. Pode parecer que a vacinação em massa contra o tétano é uma medida útil. Não é. Ao contrário, pode criar uma falsa sensação de segurança. Uma pessoa que nunca tenha sido vacinada não ficará imunizada contra o tétano com apenas uma dose. A profilaxia do tétano será feita mais adequadamente em uma Unidades de Saúde, uma vez que envolve cuidados com o local do ferimento e depende da história de vacinação. Se o indivíduo nunca tiver sido vacinado ou estiver com o esquema vacinal incompleto, o que é o caso de grande parte da população adulta, pode ser necessário que, dependendo do tipo de ferimento, além dos cuidados com o local do ferimento e da vacina, receba também imunização passiva (imunoglobulina antitetânica ou, na sua falta, soro antitetânico). Em adultos não vacinados, o esquema completo é feito com três doses. A vacina deve, portanto, estar disponível nas Unidades de Saúde, onde o risco de tétano poderá ser corretamente avaliado.
Atualizado em 06/10/2008, 11:27 h
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