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Centro de Informação em Saúde para Viajantes

Sarampo: Chapada Diamantina e Filadélfia

Em 16/11/06 foram confirmados dois casos de sarampo em não vacinados residentes no município de João Dourado (445 km de Salvador), o primeiro com manifestações clínicas iniciadas em 23/10/2006. Em sequência, no mesmo município, foram detectadas mais 16 pessoas com manifestações compatíveis com sarampo, três das quais haviam participado de uma excursão à Lençóis (410 km de Salvador). Em 09/11/2006, no município de Lençóis, foi notificado um caso com suspeita de sarampo e, em seguida, foram detectadas mais três com manifestações compatíveis, todos em não vacinados e menores de um ano de idade (Fonte: Ministério da Saúde - Secretaria de Vigilância em Saúde, 21/11/2006). Os dois municípios ficam localizados na Chapada Diamantina (Bahia), um pólo de atração turística nacional e internacional.

Todos os casos com suspeita de sarampo de Lençóis foram descartados e, em 14/12/2006 e a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia informava que o surto de sarampo estava restrito ao município de João Dourado. Em 28/12/2006, a Secretaria de Vigilância em Saúde (Ministério da Saúde) registrava, através de nota, a confirmação 16 casos em João Dourado e um no município de Irecê (478 km de Salvador, próximo a João Dourado). A nota registrava ainda, entre setembro e novembro, a notificação de 33 casos com suspeita de sarampo (10 confirmados, à época) no município de Filadelfia (Centro-Norte da Bahia, 374 km de Salvador). Em 2007 a Secretaria de Vigilância em Saúde atualizou as informações sobre o surto de sarampo na Bahia (ver Tabela e Mapa) em notas emitidas em 15/01/2007, 30/01/2007 e 08/02/2007, registrando também a ocorrência de dois casos no município de Senhor do Bonfim, que provavelmente adquiriram a doença em Filadélfia. 

Tabela
Sarampo na Bahia: municípios e número de casos

Município

Número de casos

João Dourado

18

Irecê

1

Filadelfia

26

Senhor do Bonfim

2

Total

47

Fonte: Ministério da Saúde - Secretaria de Vigilância em Saúde, 30/01/2007.

Até o momento o número total de casos sarampo na Bahia é de 47 e novos casos não são detectados desde 27/11/2006. O genotipo vírus do sarampo implicado como causa do surto em João Dourado foi o D4, que circula endêmicamente na Índia, no Paquistão, na Etiópia e em países do Sul da África. O D4 é também responsável por casos importados, em países da América do Norte, Europa e Oceania. Ainda não estão disponíveis informações sobre o genotipo que causou o surto de  sarampo em Filadélfia e nem foi estabelecido um vínculo epidemiológico definitivo com os casos de João Dourado.

Mapa
Bahia: municípios com casos confirmados de sarampo



Bahia: municípios com casos confirmados de sarampo

Fonte: Ministério da Saúde - Secretaria de Vigilância em Saúde, 30/01/2007.

As regiões em desenvolvimento (África subsaariana e do subcontinente indiano) respondem pela maioria dos cerca de 30 milhões de casos de sarampo que ainda ocorrem no mundo. No entanto, ainda em 2006, diversos surtos de sarampo foram registrados em países como Bielo-Rússia, Dinamarca, Alemanha, Grécia, Inglaterra, Itália, Polônia, Espanha, Suécia, Ucrânia, Venezuela. No Brasil, entre 2001 e 2005 foram registrados nove casos de sarampo, todos relacionados a viajantes que adquiriram a infecção em outros países (Japão, Alemanha e Ilhas Maldivas). O elevado número de pessoas que se deslocam (trabalho ou turismo) de e para áreas de risco de transmissão, faz com que exista risco permanente de reintrodução de sarampo em áreas onde a transmissão autóctone foi interrompida, mas cobertura vacinal não é adequada. Nada mais previsível do que a possibilidade de reintrodução de sarampo (ou rubéola, ou caxumba) em uma área que é um pólo turístico internacional.

Determinar a origem da infecção é importante, uma vez que é necessário procurar esclarecer se, apesar da aparente eliminação, o vírus do sarampo ainda está circulando no país. No Brasil, a vigilância (convencional e virológica) do sarampo começou após 1991, o que significa que faltam informações sobre os genótipos que circulavam anteriormente no país. Além disto, também as informações sobre os genótipos detectados após 1991 são escassas. A epidemia que ocorreu em em 1997 foi causada pelo D6, mas não se sabe se este genótipo, comum na Europa, circulava anteriormente no país ou se foi introduzido a partir de casos importados. Entretanto, como o Brasil não registra transmissão autóctone
(transmissão de um genótipo previamente existente no país) desde 2001, a caracterização do D4 como responsável pelo surto atual sugere que a origem da infecção, muito provavelmente, tenha sido um viajante de outro país. Mais importante ainda do que determinar a origem da infecção, é investigar a razão da existência de não vacinados em uma área com intensa circulação de pessoas, provenientes de todas as regiões do Brasil e de outros países, inclusive os que ainda tem risco de transmissão de sarampo.

O sarampo é uma doença viral transmitida por via respiratória, para qual estão disponíveis vacinas eficazes e seguras. Não existem diferenças de evolução clínica entre os cerca de 20 diferentes genótipos do vírus do sarampo identificados. A doença ainda é uma das causas mais freqüentes de óbito em crianças no mundo, em países ond
e a cobertura vacinal é insatisfatória. O período entre a infecção e o início dos sintomas (incubação) é de cerca de 10 dias (8 a 14). As manifestações iniciais (período prodrômico) são febre alta, tosse "seca" persistente, coriza e conjuntivite. Evolutivamente, em geral dois a quatro dias após o início do período prodrômico, surgem manchas avermelhadas na pele (exantema máculo-papular eritematoso), inicialmente no rosto e que progridem em direção aos pés (progressão céfalo-caudal), com duração de cinco a seis dias. O sarampo pode causar complicações como diarréia, otite, pneumonia (pelo próprio vírus do sarampo ou secundariamente, por bactérias) e encefalite (acometimento do sistema nervoso central). A doença geralmente é mais grave em desnutridos, gestantes, recém-nascidos e pessoas portadoras de imunodeficiências. Além disto, também pode agravar a tuberculose, em pessoas ainda não tratadas desta doença. Nas condições epidemiológicas atuais, onde os casos são raros, a história de "sarampo" com diagnóstico exclusivamente clínico, sem comprovação sorológica, não permite presumir com grau de certeza razoável a existência de imunidade contra a doença.

A discussão sobre vacinar ou não um viajante que tenha a Bahia como destino é ociosa. Devem ser vacinadas, observadas as contra-indicações, todas as pessoas que não tiveram
sarampo e que ainda não receberam a vacina (ou seja, os não-imunes), indo ou não para a Bahia, com ou sem surto de sarampo. A vacina (MMR), em pessoas não imunes, quando feita até 72 horas depois do contato, pode impedir o desenvolvimento de sarampo. Com maior probabilidade, portanto, pode proteger contra o sarampo quando feita a qualquer momento antes do provável contato, ou seja, antes da viagem para um local onde esteja ocorrendo um surto.

Disponível em 02/12/2006, 12:49 h. Atualizado em 20/02/2007, 17:29 h.

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